Agora que os blogues começam a sentar-se no banco dos réus, o que é normal em si mesmo porque a lei não pode ficar à porta da Rede se nela se cometerem crimes, independentemente do juízo que se possa ter sobre os casos da actualidade, há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas. Por isso, os blogues que acham que lá por porem uma salva de prata, ou um prato de barro, em cima de um monte de lixo, podem ser vistos apenas pela prata ou pelo barro, enganam-se. O lixo dos comentários, tantas vezes puramente calunioso, está lá, à vista de todos e não serve nenhuma liberdade, nem nenhuma opinião “anti-sistema”, muito menos o “povo” ou a democracia. Bem pelo contrário, serve quase sempre o pior dos sistemas, a mesquinhice da aldeia, a claustrofobia do boato e da insinuação, o crime da calúnia. Depois não se queixem.
blog Abrupto
Ou seja: sente-se no banco dos réus, imediatamente, todo aquele que seja suficientemente imbecil para se identificar; quanto aos que não se identificam, voluntária e estupidamente, pois ele há ferramentas, rastreadores, farejadores virtuais, endereços de IP e assim, pois ele há instrumentos, ele há especialistas, então está bem de ver, caça-se o anónimo e desanonimiza-se-lhe o focinho, pronto, pespega-se com esse também no banco dos réus; e esse é muitos.
Isto é perigoso mas, se calhar, lá chegaremos.
De facto, o lixo, o trogloditismo, a boçalidade, a cobardia e a baixeza, nunca nada disso reflectiu qualquer espécie de opinião, muito menos “anti-sistema” e de forma alguma serve seja que espécie for de “liberdade” ou quaisquer interesses, nem do “povo”, nem da “democracia” nem de qualquer outra coisa. Nos blogs como nas mais vulgares conversas de café ou tertúlias de tasca.
Isto é aborrecido mas, se calhar, inevitável.
A cobardia e a baixeza não se eliminam por decreto como, de resto, nenhuma característica humana pode ou poderá alguma vez ter sido legalmente condicionada, contida ou sequer limitada.
Isto é evidente mas, se calhar, às vezes finge-se que não é.
A calúnia, a difamação, a insinuação, o boato, o insulto, não são exclusivo nem idiossincrasia própria dos blogs. Como a mesquinhez não existe apenas na aldeia, em qualquer aldeia. Nenhuma aldeia se pode tornar irredutível e permanecer imune à lei, por mais primitiva ou remota ou mesmo virtual que seja. A questão reside em saber quem tem autoridade, seja moral seja judicial, para policiar, vigiar e controlar a aldeia e os que nela vivem, o que na aldeia se faz e diz e escreve.
Isto é terrível mas, se calhar, já lá chegámos.
Como sempre sucede, os abusos e desmandos de alguns acabarão fatalmente por custar muito caro a todos. A liberdade da maioria é posta em causa pela (ou a pretexto da) libertinagem de uma desprezível minoria. Isto é mesmo assim e, se calhar, é bom que nos habituemos, como diz o outro – ou que “depois não se queixem”, como diz este.
(Re)li este post, como sempre faço, tentando colocar-me no lugar do visitante. Ah, meu Deus, como gostaria de que alguém, como leitor, como blogger, aqui deixasse a seguinte pergunta:
Então, e se nessa “desprezível minoria” estiverem uns quantos agentes, testas-de-ferro, profissionais pagos para descredibilizar a blogosfera?
Ou, outra pergunta:
Então, e se os insultos gratuitos, cobardes e anónimos – e os posts anónimos, cobardes e gratuitos – forem escritos por encomenda?
Ou, ainda, uma terceira pergunta:
E se estiver em curso um ataque maciço, deliberado e planeado, com o objectivo de criar condições políticas para o cerceamento legal das liberdades de opinião e de expressão na blogosfera?
Pois. “E se.”
Já que ninguém pergunta, pergunto eu mesmo:
Então, e se…
O que acontece?